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Capítulo 4

27 de ago. de 2012

Thais Cristina,


"Querida Zara, acho que é assim que se começa uma carta, não?
Na verdade eu não sei como começar, nós conversávamos de tudo tão perto e agora você está a quilômetros de distância...
Não tem a menor graça sem você aqui, sabia? As ruas continuam as mesmas, as pessoas continuam as mesmas.
Tudo exatamente no mesmo lugar, e você aí, vivendo sua nova vida fabulosa!
Queria estar aí com você, porque sinto muitas, muitas saudades e porque não aguento mais esse lugar.
Meu lugar não é aqui, entende? Deveríamos viver essa aventura juntas, eu sei! É o nosso destino.
Mas eu sei que você vai viver muitas coisas aí. E quero que aproveite ao máximo por nós duas!
Só espero que esses três anos passem logo...
Com amor, sua melhor amiga (assim ainda espero)
Rannash."

Pequenas gotas começaram a se formar no canto de meus olhos e logo transformaram-se em um temporal salgado e saudoso. Nunca achei que sentiria tanta falta de casa, daquele lugar de onde eu tentei, por anos, sair desesperadamente. Algumas lágrimas pingavam e eu dobrei o papel novamente, antes que o atingissem. Respirei fundo e sequei os olhos.


Assim que guardei a carta, comecei a vasculhar aquela caixinha repleta de lembranças e presentes. Primeiro um desenho meu e de meus pais, feito à carvão, por meu irmão a alguns anos atrás. Suspirei e funguei mais fundo, me impedindo de chorar outra vez ao relembrar aquele dia. Lá dentro também havia três pulseiras coloridas feitas de corda, um pequeno pote com conchinhas brilhantes e um doce feito pela minha avó. Agradeci mentalmente por receber aquele sabor que tanto me recordava minha casa. Mas uma coisa reluzindo no fundo da caixa chamou minha atenção. Nela, um singelo cordão pendia um pingente dourado, quase como ouro. Seu interior era recheado de pedrinhas brancas e cintilantes. A sensação de segurá-lo nas mãos me fazia sentir próxima de Moontsun outra vez. Aquelas pedrinhas eram tão claras quanto as areias de nossas praias e a coloração do fio que o prendia lembrava-me do pôr-do-sol. Segurei o cordão com as duas mãos e desejei que um pedaço da ilha estivesse ali comigo. De relance, ele parecia brilhar, como se tomasse vida, e eu sorri. Agora sim, me sentia em casa.


O fim-de-semana chegou e com ele veio também a minha ansiedade. Era a primeira vez que poderíamos sair pela cidade, sem supervisão. E era minha primeira vez em uma cidade tão grande. Enquanto eu observava as meninas se arrumarem para sair, pensava se deveria mesmo ir. Elas pareciam tão perfeitamente arrumadas e eu lutava contra o meu cabelo. Raven, principalmente, era uma dessas meninas que arrancavam olhares por onde passasse, quer fosse pela sua própria beleza ou simpatia, e estar ao lado dela nessa situação me deixava intimidada. Apesar disso, meu pensamento estava focado em me divertir e aproveitar a cidade. Uma das meninas havia me emprestado uma máquina fotográfica para que eu capturasse cada momento da viagem, e aquilo me encantou. Eu poderia enviar para minha família e para Rann e assim talvez ela se sentisse parte de tudo aquilo comigo.


Coloquei um dos vestidos que eu talvez usaria numa ocasião de festa na ilha e soltei os cabelos, prendendo neles uma flor laranja que combinava, segundo Rae. No pescoço, pendurei aquele colar que pra mim agora era quase como um amuleto e nos pés calcei umas sandálias baixas. As meninas foram ainda se maquiar e eu desci na frente. O hall de convivência estava agora praticamente vazio e as chances de esbarrar em mais alguém eram mínimas. Me dirigi à grande janela de vidro, idêntica em todos os andares, e comecei a espiar o sol se despedindo atrás da paisagem.


- Realmente, o pôr-do-sol daqui é lindo. - uma voz conhecida apareceu de repente e virei-me para olhá-lo. Josh era ainda mais bonito de perto e seus olhos ainda mais penetrantes.

- Não tanto quanto em minha terra natal. - respondi voltando-me para a janela, tentando disfarçar minha reação - O sol lá parece próximo, como se pudéssemos tocá-lo. - sorri com a lembrança.

- Parece ser um lugar encantador... - ele respondeu e fez uma pequena pausa - ... Assim como seus habitantes. - meu rosto corou.

- É sim. - foi tudo o que consegui responder. Algo em sua presença me deixava extremamente nervosa.

- Você é nova aqui, não é? - fiz que sim com a cabeça - Prazer, Joshua! - sua mão estendeu-se à minha e eu a apertei. O contato me fez estremecer.

- Zara.

- Nome bonito. - sorri, envergonhada e agradeci.

Em poucos segundos alguém se aproximou e gritou o seu nome. Ele virou-se, fez um sinal com a mão para que a pessoa esperasse, apertou outra vez minha mão e se despediu. Eu continuei imóvel, na mesma posição.

- Aquele era Josh Hutcherson falando com você? - uma das amigas de Raven, com um nome bem estranho e impronunciável aproximou-se, tirando-me do meu pequeno transe.

- Acho que sim. - balancei a cabeça em afirmação.

- Uau, querida! Quem diria que a menina turista faria sucesso, hein? - ela falou estudando-me - Acho que hoje é seu dia de sorte! - ela sorriu e eu retribuí.

- Acho que sim... - repeti minha fala, baixo o bastante para que ninguém além de mim escutasse.



Logo as outras meninas se juntaram à nós. Eu estava irradiante pela minha primeira noite de liberdade. Porém mais ainda por alguém ter me achado "encantadora". Não que eu me achasse feia, mas no meio de tantas meninas lindas e bem vestidas da Melborne High, aquele era um elogio e tanto! Quando Raven desceu, todas já estavam prontas para o que a noite nos reservava.

- Já esteve num parque de diversões? - ela perguntou. Neguei com a cabeça, curiosa. Com certeza qualquer coisa que envolvesse as palavras 'parque' e 'diversões' seria um perfeito começo para o que o ano me reservava.

- Então você vai adorar! - abri um sorriso enorme pela certeza de embarcar numa aventura inesperada. A menina tinha razão, aquele era mesmo meu dia de sorte.

2 comentários:

Natascha Oliveira disse...

Ok... como faz pra levar o Josh pra ilha e não sair nunca mais???

o.O

Thais Cristina, disse...

Haushaushua, Josh é desses que já chegam nas indiretas, kk
Bem que isso passou pela cabeça da Zara, kk -n

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