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Capítulo 1

17 de ago. de 2012

Thais Cristina,
Welcome, Welcome!

Da janela daquele imenso e desconfortável avião, eu observava a pequena ilha de Moontsun ficar ainda menor. Era a primeira vez em quinze anos que eu saía de lá. Agora eu tinha dezessete e já nem me lembrava do quão longa a viagem tinha sido.

Era comum os adolescentes de lá se mudarem a fim de concluir os estudos em algum país mais desenvolvido. Não que a educação da ilha fosse extremamente precária, mas é que aquele lugar não oferecia futuro nenhum, além da pesca e do cultivo de pintchas, uma fruta local.

Aquele era um lugar pacato, todos se conheciam. Era como um reality show sem câmeras, onde os expectadores eram os próprios vizinhos. Talvez por esse motivo, sair de lá não fosse assim tão má ideia. E, depois de dois anos sem professores naquele lixo que era a Escola Botsuani, decidi que terminaria -começaria de novo- o ensino médio bem longe dali.

Apenas uma coisa me faria falta, Rannash, minha melhor amiga e provavelmente a única. Diferente das adolescentes da região, que sonhavam com fama e fortuna, nós duas apenas queríamos terminar o colegial e conseguir um emprego que nos desse ao menos um lugar confortável para cair no sono ao regressarmos.

Infelizmente os pais de Rann não tinham condições de bancar uma viagem desse porte e, diferente de mim, ela não juntou dinheiro a vida toda, por isso agora nosso único meio de comunicação seriam as cartas esporádicas que mandaríamos uma para a outra, já que não havia nem sinal de aparelhos eletrônicos naquela ilha arcaica e, as únicas vezes em que víamos celulares ao vivo, eram quando turistas visitavam nossa cidade a fim de conhecer o misterioso e velho curandeiro das celebridades, que na verdade era um senhor meio alterado de sua sanidade mental. Lembro-me de nós duas, perguntando-nos como era possível caber tanta coisa num objeto tão pequeno. E como pessoas tão ricas e inteligentes podiam acreditar em tamanha baboseira.

Quando a avião pousou, eu finalmente pude respirar aliviada. Mas a sensação não durou muito tempo. O aeroporto, apesar de imenso e absurdamente sofisticado, era um emaranhado de pessoas passando de lá para cá. Encontrei algum canto mais vazio e abri minha mochila. Peguei as anotações que havia feito há alguns meses antes e segui para um ponto de ônibus. O dinheiro tinha que ser controlado a partir de agora e um táxi era algo completamente fora do meu orçamento.



Enquanto percorríamos a cidade, eu espiava a vida lá fora, pela janela. Era tudo muito moderno e bem arrumado, apesar do grande fluxo de passantes, e havia prédios altos com milhares de anúncios de produtos que eu nem imaginaria existir. Rannash ficaria deslumbrada com tudo isso, pensei enquanto passávamos por uma rua curvada numa espécie de looping, cheia de lojas e vestidos brilhantes. Os prédios altos me lembravam de algumas esculturas que eu vi uma vez num livro de história, só que diferentes daqueles feitos de tijolos e barro, esses eram de um material brilhante e sofisticado, e as ruas eram claras e lisas, como se pudéssemos ver nosso próprio reflexo no piso.

- É aqui que você fica, mocinha! - o velho senhor sentado no banco de motorista indicava meu local de desembarque.
Agradeci e desci do ônibus, passando minha mochila por cima dos ombros.

Meu primeiro dia numa cidade nova. Tudo era extremamente diferente de onde eu havia sido criada. Ao invés de rostos sorridentes, caras amarradas e pés apressados passavam por mim, ignorando um outdoor ao longe que numa das frases dizia "aqui é lugar de gente feliz". Sorri com a ironia. De qualquer forma, eu sentia que conseguiria me ajustar a tudo aquilo.

- Bom dia! - dirigi meu melhor sorriso a uma senhora que vendia doces numa pequena barraca no fim da rua, que destoava completamente daquele maravilhoso cenário - Sabe me dizer pra que lado fica a Academia Melborne High? - enrolei-me tentando não puxar muito o sotaque e parecer cordial.

- Duas quadras a direita. - ela tinha uma voz aguda e baixa. Arrependi-me por ter agradecido ao motorista e o xinguei mentalmente - Você é nova por aqui, não é? - ela provavelmente reparou em minha fala.

- Sou sim. - assenti envergonhada.

- Não costumo ajudar estranhos... - ela fez uma pausa e logo continuou - Mas você me parece bem familiar. - a mulher franziu as sobrancelhas  - De qualquer forma, aceite esses doces. - disse, colocando três embrulhos em minhas mãos.

- Claro. Quanto lhe devo? - disse, por educação.

- São por minha conta. - ela deu uma piscadela e sorriu. - Guarde para quando for necessário, eles lhe trarão sorte. - a mulher continuava fazendo um esforço para lembrar-se de algo.

- Ãhn, obrigada. - agradeci cética. Nunca acreditei muito nessa coisa de sorte, ou melhor, era como se ela não gostasse de mim, se isso fosse possível.

Acenei para a moça e virei-me na direção a qual ela me indicara.

- Hum... Zara? - assustei-me com o som de meu nome saindo de seus lábios e voltei a encará-la - Apenas quando for necessário, está bem?

Fiz que sim com a cabeça mais uma vez e atravessei a rua. Não me lembrava de ter dito meu nome, mas ela não se parecia com uma bruxa ou alguém do tipo que fazia adivinhações. Talvez eu tenha dito, pensei enquanto analisava a imagem de seu rosto mentalmente.

Ela não me parecia familiar, de maneira alguma, e era impossível termos nos visto antes. Apenas duas horas nessa cidade e eu já estava tendo alucinações! Culpei o fuso horário e o sono. Apressei o passo e, ao virar a última rua restante, a avistei. Academia Melborne High. O lugar onde eu passaria os próximos três anos de minha vida.

Observei mais uma vez aquele prédio monumental. As palavras daquela mulher ainda martelavam minha mente e meu corpo tremia, com medo do que estava por vir. Você consegue, Zara. Vai dar tudo certo, você vai ver!  Respirei fundo e dei um passo em direção ao portão. O passo que decidiria meu futuro. Ou pelo menos o tempo que durasse o ensino médio.

Imaginem comigo!
- Aeroporto:  http://data.whicdn.com/images/33630840/midfield_complex_05_large.jpg

Cara, vocês não tem noção do quanto eu tô nervosa pelas reações. hehehe Espero que gostem ;)

4 comentários:

Natascha Oliveira disse...

OMG!! Ela tá dessas semi-distópicas!! rsrsrs!!
Como assim?
Tendo Rae no meio, tinha que ter umas loucuras. Mas pra falar a verdade eu tô com medo u.U srsrs!
Me lembrei da Madame Z de Sorte no amor.. srsrs!
Beijo!

Thais Cristina, disse...

Distopia é o que há, hehe -n
Se bem que não sei se vai seguir taaanto a linha distópica assim.
TINHA que ter Rae, né? haha Tem umas loucurinhas guardadas, rs
Posso dizer que eu também tô com medo? Não sei que rumo pode tomar, kk E sim, eu também lembrei de Sorte no Amor *-*

Bruna Andrade disse...

Taloco que cidade é essa, hein! haha
Sua fanfic me lembrou de um sonho antigo: morar em Melbourne na Austrália. *-*
Cara, muito legal, gostei do jeito como você escreve. :D Se seguisse a linha distópica ia ser bem legal, hehe, adoro críticas sociais.

Thais Cristina, disse...

Pois é, Bruna! Cacei uma cidade que se encaixasse no que eu imagino e até que achei, hahaha
Pensei isso também *----*
Talvez siga, hihihi, vamos esperar pra ver, rs
Obrigadão!

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